O padre MAG Himalaya e o seu «Pyrheliophero»


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A montagem decorre numa atmosfera de espionagem industrial, a partir de peças mandadas construir em Paris (o padre Himalaya é acompanhado pelo Capitão Bazeries, responsável por questões de segredo militar). Sobre uma plataforma de pedra e areia são assentes carris circulares, sobre os quais deslizava a estrutura de suporte, que podia ser orientada de acordo com a posição solar. A campânula era em forma de calote esférica, com centenas de espelhos, e estava suspensa na estrutura por dois eixos, que permitiam uma orientação vertical ou horizontal, fazendo desse modo incidir o ponto focal na boca do pequeno forno refractário. Esta primeira máquina tem um sucesso relativo atingindo apenas 1100 °C de temperatura.
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  • Quem foi o Padre MAG Himalaya?

O conhecimento desta personalidade portuguesa chegou-me pela primeira vez aos ouvidos pela TSF, "A formidável história do padre Himalaya", um trabalho de Fernando Alves e Alexandrina Guerreiro. A reportagem começava assim:
Nasceu na segunda metade do século XIX em Cendufe, Arcos de Valdevez. Viu chegar o século XX instalando uma máquina solar nos Pirinéus. Em 1904 recebeu a medalha ouro na exposição universal de St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos da América. Inventou explosivos, criou um sistema de irrigação e um plano de arborização para todo o país. A utopia do Padre Himalaya anunciava uma futura idade solar.
P. Himalaya, 1902
O ambiente cultural e científico em Portugal nos primeiros anos do nosso século não era brilhante. A cultura científica e técnica estavam perto da estagnação.As instituições que a elas se dedicavam eram escassas. As publicações nesta área eram também poucas e de qualidade vária.

Neste panorama desolador avulta a figura de um homem que se interessou pelos mais variados campos da ciência e da técnica, tendo feito e patenteado inventos, produzido, ainda, reflexões no campo da economia e da política sociais. Referimo-nos ao Padre Manuel António Gomes, que se tornaria conhecido por Padre Himalaya (ou MAG Himalaya, como frequentemente assinava ).

Manuel António Gomes nasceu no dia 9 de Dezembro de 1868 na aldeia de Santiago de Cendufe, concelho de Arcos de Valdevez. Filho e neto de agricultores pobres. Em 1882, aos 14 anos,  inscreveu-se no seminário de Braga, frequentando o Colégio Espiritano, criado para seminaristas pobres.Foi ali que recebeu, devido à sua elevada estatura, a alcunha de Himalaya,  que viria a adoptar como próprio nome.

Depois de se tornar padre, a 26 de Julho de 1891, exerceu durante anos a docência das disciplinas que o apaixonavam, Ciências Naturais, Física e Química no Colégio da Formiga, em Ermesinde. É neste colégio que inicia as suas investigações solares. 

O interesse do Padre Himalaya pelas propriedades medicinais das plantas levou-o a iniciar uma investigação minuciosa que terminou com a criação de um vasto conjunto de medicamentos naturais, entre eles os Sais Orgânicos que foram comercializados com sucesso na época.

Veio a tornar-se capelão no Porto, no Colégio da Visitação. Apoiado por uma senhora brasileira, D. Emília Josefina dos Santos, que aí era professora, começou a trabalhar na melhoria do edifício do referido colégio.Começa a interessar-se pela energia solar e desenvolve um pequeno protótipo da máquina solar que irá levar para França.

Em 1898 recebe um apoio de D. Emília dos Santos, para prosseguir os estudos em Paris. Ao mesmo tempo que ia trabalhando na aplicação das suas teorias matemáticas e astronómicas à sua máquina solar, aparelho com o qual pretende obter altas temperaturas através da captação das radiações solares. Um dos seus objectivos era utilizar o aparelho para obter azotatos da atmosfera e com eles produzir fertilizantes para a agricultura.

  • Neully sur Siene - A primeira experiência

As primeiras experiências decorreram em Neully sur Seine em 1899, onde, tendo obtido a patente e o patrocínio do Governo francês, constrói a primeira máquina solar.

No ano seguinte, construiu um segundo aparelho que terá sido montada no Verão de 1900, a cerca de 5 Km de Sorède, uma pequena aldeia de montanha dos Pirinéus Orientais. Numa colina junto às ruínas da Ermida de Castel d’Ultrera, junto à fronteira Espanhola.

Himalaya junto ao Pirelióforo em Sorède,
onde realiza as primeiras experiências. 
A montagem decorre numa atmosfera de espionagem industrial, a partir de peças mandadas construir em Paris (o padre Himalaya é acompanhado pelo Capitão Bazeries, responsável por questões de segredo militar). Sobre uma plataforma de pedra e areia são assentes carris circulares, sobre os quais deslizava a estrutura de suporte, que podia ser orientada de acordo com a posição solar. A campânula era em forma de calote esférica, com centenas de espelhos, e estava suspensa na estrutura por dois eixos, que permitiam uma orientação vertical ou horizontal, fazendo desse modo incidir o ponto focal na boca do pequeno forno refractário. Esta primeira máquina tem um sucesso relativo atingindo apenas 1100 °C de temperatura.

Com este relativo sucesso em Março de 1901, em Londres, Himalaya, estabelece um contrato com a Condessa de Penha Longa, Clementina Pinto Leite (1876-1921), constituindo uma sociedade para explorar um aparelho para utilizar o calor do sol nas artes metalúrgicas e químicas em todos os ramos da indústria. Em Setembro, já no palacete da Condessa em Lisboa, reformula os projectos de construção para que os aparelhos possam ser construídos em Portugal e com custos reduzidos. Mostra-se céptico quanto à construção dos reflectores, bem como a sua eventual qualidade.

  • O fracasso da tapada da Ajuda

Em Abril de 1902, na Tapada da Ajuda, é feita a primeira demonstração pública da máquina, que se torna num enorme fiasco! Esta terceira maquina realizada pela Empresa Industrial Portuguesa, é um protótipo muito diferente dos anteriores pois trata-se de um sistema parabólico. Erros na construção levam a que o foco de luz saia distorcido, derretendo o seu próprio suporte. O P. Himalaya escreve ao seu irmão Gaspar, relatando este insucesso que se deveu ao facto do aparelho ter ficado «(…) muito mal feito».
Pireliófero construído em Abril de 1902, na Tapada da Ajuda

  • O sucesso e reconhecimento em St.Louis (EUA 1904)

Desalentado, o padre Himalaya regressa a França, onde, ainda com o apoio da Condessa de Penha Longa, constrói uma nova máquina, mais aperfeiçoada para ser demonstrada na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos, para onde se desloca em Abril de 1904. 

O insucesso em Portugal, fez com que a máquina do Padre Himalaya fosse para St. Louis à margem da representação Portuguesa! 

O mecanismo, consistia num enorme espelho parabólico formado por 6177 pequenos espelhos, com uma superfície reflectora de 80 m², que reflectiam a luz do Sol numa cápsula refractária, a qual funcionava como um cadinho, e onde se colocavam os materiais a fundir. Para que pudesse acompanhar o movimento do Sol, o sistema que estava montado numa enorme armação em aço de 13 metros de altura, que acompanhava os movimentos do Sol mediante um mecanismo de relojoaria. Em St.Louis, o padre Himalaya escreve:
(...)cá vou trabalhando dia e noite no ajustamento dos espelhos, tenho tido aqui dificuldades incalculáveis. Tudo tem levado um tempo incrível. De qualquer modo é a única invenção completamente nova que cá apareceu. Há aqui coisas admiráveis, mas já tudo era conhecido. Este aparelho de investigação é novo.Faz uma figura linda! É majestoso e atrai a atenção.
Resolvi dar a esta maquina o nome de Pyrheliophero (Pireliófero) - "pyr", de fogo,"hélios", de Sol, e "pheros", que conduz - “maquina que conduz o fogo do Sol”.
O meu fim é estudar o calor solar, a sua origem e acção sobre a Terra. Obter e estudar as altas temperaturas, determinar se sim ou não a matéria é indestrutível. Extrair o azoto inerte da atmosfera oxidando-o e tornando-o susceptível de usos industriais. Completar diversas lacunas que existem na química especialmente no que diz respeito a cristalização das rochas refractárias.
Até que num dia de outubro perante o espanto dos visitantes produziu-se o foco de luz e calor mais intenso que jamais existiu sobre a Terra, 3800 ºC.
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A construção do Pirelióforo para a exposição universal de St. Louis, nos EUA, em 1904


A experiência realizada, é um enorme êxito, consegue gerar temperaturas da ordem dos 3000-4000º C graus, derretendo todos os materiais que são colocados sob o foco de luz, e sendo premiado com o “Grand Prize da Louisiana Purchase Exposition”

Nas primeiras páginas dos principais jornais americanos – New York Times, Sunday Magazine, Saint-Louis Republic – não se poupavam elogios ao engenho do Padre Himalaya.

Aos vencedores premiados da Exposição Universal foi proporcionada uma viagem de estudo por vários locais dos Estados Unidos. Na viagem, o Himalaya aproveitou para estabelecer contactos e relações de amizade que lhe foram valiosas em anos futuros. 

Quando regressou ao recinto da feira, a sua máquina solar tinha sido completamente despojada dos 6117 espelhos côncavos de cristal, assim como do mecanismo de relojoaria. A sua desmontagem era caríssima e a Condessa de Penha Longa tinha abandonado o projecto. O armazém previsto para o guardar nunca se concretizou!

Quer em França, quer nos Estado Unidos, as forças económicas da altura não se mostraram interessadas no aproveitamento da energia solar, estando mais empenhadas na exploração petrolífera.

  • De regresso a Portugal, novos interesses

Como a Condessa de Penha Longa, deixou de estar disponível para o apoiar financeiramente, o padre Himalaya passa a interessar-se também por explosivos, dados os seus conhecimentos químicos. Monta em Washington um laboratório e nele fabrica uma “Pólvora Sem Fumo” a que chamou Himalayite, e patentiou em Maio de 1907 nos EUA com a designação “Process of Making Smokeless Powder”.

Esta pólvora cloretada é testada primeiro em pedreiras e posteriormente em vários arsenais do exército norte americano. A Himalayite resiste a grandes choques, fricções e temperaturas sem perigo de explosão, sendo fabricada com produtos de origem vegetal e mineral, de fácil obtenção e baixo custo. Os EUA, interessados no seu trabalho para fins militares, convidaram-no a naturalizar-se americano o que Padre Himalaya rejeitou, pois não era sua intenção abdicar da nacionalidade nem utilizar as suas descobertas para fins bélicos.

De regresso a Lisboa, em Setembro de 1906, a receptividade aos seus trabalhos aumentou, sendo publicados artigos sobre os seus inventos em várias revistas. Na Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas realizam-se estudos sobre os efeitos destrutivos da Himalayite. Conclui-se que é própria para o carregamento de petardos, mas o seu preço torna-a interessante para a utilização em minas e granadas, porém este explosivo não teve qualquer utilização bélica em Portugal, destinou-se exclusivamente ao uso na exploração mineira, florestal e outras actividades económicas.

Em 1908 o padre Himalaya adere à Academia de Sciências de Portugal, onde profere diversas conferências e participa em vários congressos. Nas suas intervenções é manifesta a preocupação com o ordenamento territorial do País, expresso nas suas teses de aproveitamento das energias renováveis, com vista a um desenvolvimento sustentado.

No Verão de 1913 uma seca enorme afligia o país, sendo o Alentejo a região mais afectada. O padre Himalaya apresenta, em Julho desse ano, uma comunicação sobre o processo de fazer chover, baseando-se numa acção conjugada vertical e horizontal sobre um prisma de ar provocado pelo tiro sincronizado de vários canhões. O aparelho que criou para o efeito era um múltiplo canhão, orientável, que assentava num polígono especial e permitia o disparo em simultâneo de explosivos que criavam um embate vertical e horizontal entre as nuvens, provocando a chuva. Foram feitas experiências na zona da Serra da Estrela sobre as quais testemunhos credíveis afirmam terem caído umas gotas de chuva nesses dias quentes de Verão!

Sobre as experiências foi declarado oficiosamente que os resultados, embora concludentes, impunham muitos gastos em explosivos. O método foi por isso abandonado devido ao seu elevado custo.
Aparelho de fazer chover
Destas experiências, sobre o uso de canhões especiais para fazer chuva artificial, nasceu uma história rocambolesca, muito difundida logo após a Grande Guerra de 1914-1918. É mais um enigma sobre a vida e obra de M.A.G. Himalaya. Circularam boatos que diziam que o canhão, falsamente chamado de "Grosse Berta" ou “Wilhelm Geschutz”, teria sido realizado pelos alemães a partir dos planos roubados ao Padre Himalaya.

Em 13 de Fevereiro de 1915, em colaboração com o professor Castro Neves, director de ”O Século Agrícola” e Albino Aires de Carvalho, regista a patente do “Processo e aparelho de fabrico de adubos completos dotados de acção catalítica”. Nesta é descrito o processo e o aparelho para efectuar o aproveitamento de esgotos e a elaboração de adubos. Se esta estrutura fosse adaptada à rede urbana permitiria algo semelhante às estações de tratamento de águas residuais, com o consequente aproveitamento dos nutrientes para a fertilização agrícola. Estes detritos orgânicos, enriquecidos com adubos catalíticos, formavam uma compostagem que beneficiava os solos.

Em Maio de 1915, o padre Himalya realiza as primeiras experiências concretas com o motor directo de que registara a patente em 1911. Este motor funcionava a gás pobre, como o metano ou o gasogénio proveniente dos carburetos. Nesta fase ele continua a viver na quinta da Caldeira, junto ao rio Coina, dedicando-se também aos métodos dietéticos, à botânica e à agricultura. Dá longos passeios à serra da Arrábida, onde apanha plantas medicinais e insectos raros. Constrói uma viatura a gás pobre e sonha com o aproveitamento da energia das marés.

Com a entrada de Portugal na guerra padre Himalaya fará parte da Comissão de Inventos de Guerra, na qual se supõe que terá trabalhado no desenvolvimento dos canhões que utilizava no processo de fazer chuva. continuava também a trabalhar num projecto de um turbo-motor, que patenteia a 22 de Março de 1916. Tratava-se de um motor multi-usos reversível que pretendia utilizar como substituto dos rodízios dos moinhos das marés e fazer o aproveitamento da energia.

O golpe de Estado de 5 de Dezembro de 1917 leva à tomada de posse de um novo presidente Sidónio Pais. Um dos companheiros de Himalaya da Academia de Sciências de Portugal, passa a ocupar um lugar de destaque na Câmara Municipal de Lisboa a partir da qual apoia as causas sociais defendidas pelo padre. Este é nomeado Secretário da Comissão Hidrológica da Câmara de Lisboa, passando a percorrer a bacia hidrográfica do rio Tejo, de forma a determinar os locais mais favoráveis para a construção de barragens. Viaja também às colónias Portuguesas em África.

Após o assassinato de Sidónio Pais em 1919, passa a escrever no jornal conservador “A Época”, mas com preocupações técnicas e científicas. Continua a advogar o urgente aproveitamento da energia motora das águas e a regularização dos rios, através da implantação de estruturas hidráulicas de grande e médio porte. Aponta como rios mais aptos o Douro e o Tejo e em segundo plano o Zêzere e outros pequenos rios, como o Lima e o Homem.

Em 6 de Junho de 1920 o padre viaja novamente para os EUA, com o objectivo de estudar sistemas de irrigação e barragens hidroeléctricas.  Ali permaneceu até 1922 onde se presume que tenha estudado agricultura e medicina no Instituto Carver, e registado algumas patentes dos seus inventos. Terá igualmente desempenhado uma missão oficial, fazendo parte, juntamente com o Visconde de Alte, Embaixador de Portugal nos EUA, da comissão de negociações do governo português para a renovação do armamento. Será o portador, para Portugal, de um modelo de espingarda americano: o U.S. Rifle, calibre 30, modelo 1903, assim como de uma carta de recomendação do Visconde de Alte, onde este diz que Himalaya poderá ajudar na elaboração do programa do governo, devido ao carácter prático dos seus trabalhos e estudos, ao seu patriotismo e à sua isenção política.

Uma vez em Portugal deixa progressivamente a intervenção social activa devido à instabilidade governativa do país,  e entra num período de recolhimento, voltando a dedicar-se à medicina naturopata e à tentativa de organização de uma escola de jovens ligada à Ordem Terceira Franciscana.

 Em Abril de 1925  registou a patente: “Processo de transformação de crustáceos em alimentos completos para animais domésticos e para a espécie humana”, com a colaboração do engenheiro agrícola José Epifânio Carvalho de Almeida.

  • A ultima etapa

Nos finais de 1927, o padre  Himalaya encontrava-se endividado e arruinado devido ás inúmeras viagens e a filantropia, vendo-se obrigado a vender a sua propriedade da Damaia. A ditadura do Estado Novo, que se implantara em 1926, reforçou-lhe o alento para aceitar o convite da viúva do Cônsul da Argentina, a Srª Sagastume, para efectuar uma prospecção e demarcação de recursos nas suas propriedades, na província de S. Juan perto de Buenos Aires.

Instala-se no Hotel Sportsman de Buenos Aires, visita a cidade, passeando largas horas pelo Jardim Botânico, aumentando os seus conhecimentos de plantas medicinais. Encontra também alguém que manifesta interesse pelo seu “Pyrheliphero”. Durante as suas visitas a S. Juan, na tentativa de demarcar os terrenos imensos da Srª Sagastume, interessa-se pelas plantas autóctones, resistentes à falta de água, como os Algarrobos, que pensa poderem ser de grande interesse nos terrenos pobres do Alentejo e Algarve.

Em 1931, tendo adoecido gravemente junto da cordilheira dos Andes, refugia-se como capelão de um asilo de crianças abandonadas, o Asilo Preventório de Jauregui, situado na província de Buenos Aires. Esta reclusão terá sido motivada pela agitação social que se vivia na altura, após a implantação de uma ditadura militar por Uriburu. Pensa-se que o padre Himalaya estaria ligado ao antigo governo dos Cantoni. As suas relações com a Srª Sagastume deterioraram-se também neste período, tendo esta apresentado queixa ao Bispo. No entanto, o padre Himalaya terá conseguido demover a sua filha de lhe mover um processo, declarando-a insana e apoderando-se dos seus bens, em 1929.

Durante a sua estadia no asilo, o padre Himalaya redigirá um livro manuscrito em castelhano, intitulado “La Constituicion Mecanica del Universo”. Segundo ele, representava 43 anos de reflexão, observação, estudo e investigação. Pretendia editá-lo na Argentina e posteriormente traduzi-lo e publicá-lo em Portugal e em França.

P. Himalaya, 1932
Em Agosto de 1932 parte de Buenos Aires de regresso a Portugal, trazendo com ele o precioso manuscrito, ainda inacabado. Após várias visitas a Cendufe, segue para Viana do Castelo, onde desempenhará as funções de capelão do Asilo de Velhos e Entrevados da Caridade. O irmão, padre Gaspar, conseguira que lhe oferecessem este lugar quando diligenciava, infrutiferamente, junto do Bispo a sua promoção a Cónego.

Faleceu em 21 de Dezembro de 1933, no Hospital do Asilo, vítima de mielite, não se sabe se provocada por envenenamento resultante das experiências com ervas medicinais que efectuava em si próprio. Nunca chegou a publicar o dito manuscrito, do qual só algumas páginas chegaram aos nossos dias. Fora nomeado presidente de honra do Instituto Histórico do Minho em Novembro desse ano.

Para Jacinto Rodrigues, um grande estudioso da sua vida e obra,
“O enigma de M.A.G. Himalaya foi o facto de se ter preocupado com a energia solar e ser simultaneamente inventor de explosivos, padre e ter vivido, muitas vezes, quase à margem da Igreja, sem nunca ter abandonado as suas convicções espirituais; ter lidado com monárquicos, republicanos e anarquistas, sem contudo se ligar pessoalmente a nenhum movimento; ter viajado por longas paragens, sem sabermos as relações institucionais que estabeleceu; ter recebido glória e fama e ao mesmo tempo abandono e desprezo. O padre Himalya é um personagem que incomoda e fascina. É um enigma e um mito. A sua biografia, desconcertante, é cheia de complexidade, de claros-escuros difíceis de deslindar. Acrescente-se a tudo isto uma mitologia que se gerou à volta da sua singular personalidade”.

  • O legado

Um século, é o tempo que separa, as abordagens do Padre Himalaya ao aproveitamento da energia solar, do que actualmente se faz com tecnologia atual.
Talvez possamos imaginar como o mundo de hoje seria diferente se o Pireliófero do Padre Himalaya tivesse conseguido no inicio do século XX vencer a coligação dos monopólios Morgan e Ford,  decisiva para implantação do ciclo do petróleo, dos motores de combustão a gasolina ou gasóleo, que impediram, durante 100 anos o desenvolvimento das energias não fósseis nomeadamente a solar.
Assim se perdeu uma oportunidade para evitar o esgotamento do planeta, para impedir as contaminações resultantes das poluições globais (marés negras, chuvas ácidas, alterações climatéricas, etc.).
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Concentrador Parabólico e Motor Stirling da PSA (Plataforma Solar de Almería ) para geração de electricidade

CSPT(Concentrated Solar Power Tower)  geram energia eléctrica concentrando os raios solares no topo de uma torre.
Central solar em Odeillo Pirenéus Franceses, que  atinge temperaturas de 3500°C
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Projeto em 3D do  Pirelióforo de Himalaya que vai ser construído em em Sorède pela Associação «Les amis du Padre Himalaya»



  • Fontes

«Padre Himalaya Enigmas duma Itinerância», por Jacinto Rodrigues e Rosa Oliveira em Mátria Digital • Nº2 • Novembro 2014 – Outubro 2015

«Padre Himalaya-Homem de Ciência» em Naturlink.sapo.pt

«A formidavel historia do padre Himalaya», reportagem de Fernando Alves e Alexandrina Guerreiro na  TSF